O Pastor de ovelhas, para ter
sucesso em seu trabalho, deve ser íntimo do rebanho e se importar de fato com
ele. Jesus se apresenta com esta identidade. Ele se coloca como Bom Pastor,
pois cumpre essa missão com perfeição, ensinando também a nós o modelo a seguir.
Eu Sou o Bom Pastor, que dá a vida pelas ovelhas, diz Jesus! (cf. Jo
10, 15).
Infelizmente, em nossa sociedade
constantemente se apresentam ditos “bons pastores”, preocupados com as ovelhas.
No entanto, não seguem o modelo do Bom Pastor, mas são como os mercenários
ditos por Jesus que abandonam as ovelhas e fogem diante dos riscos. Se mostram
omissos e até indiferentes (cf. Jo 10,12). Ora, se comprometer implica
em correr risco. Quem não está preparado para isso não pode ser guia de
ninguém. Diante disso, podemos nos perguntar: os líderes que temos estão de
fato comprometidos com a vida? Jesus dá um exemplo muito claro: diante da
ovelha que se perde, ele larga tudo, e vai atrás dela incansavelmente até
encontra-la, resgatá-la (cf. Lc 15,4).
Temos vivido um cenário de
Pandemia, que mudou a vida e a rotina em todo mundo. Infelizmente, no entanto,
nossa sociedade brasileira parece ainda não ter se dado conta da gravidade
disso. É claro que acreditamos firmemente que podemos sair dessa crise; porém, com
as atitudes de indiferença, descaso, e ate minimização desta doença feita por
integrantes do mais alto poder político deste país isso se dará da pior forma.
Não podemos ficar indiferentes ao
descaso pela vida! Ser Pastor (guia, líder, político, governante) é se
comprometer com o rebanho; com a vida! Quando ela é ameaçada, não pode mais
existir partido político, ou qualquer tipo de divisão. Quem se diz cristão, não
pode se omitir. Aliás, ser seguidor de Cristo é se comprometer sim com a
política, principalmente a partir do momento em que a vida humana é ameaçada e
desprezada de qualquer forma. A fé não é algo para se viver no individualismo.
Ao contrário, ela motiva, a partir de uma intimidade com Deus, a se colocar a
serviço dos outros.
Na última semana, dois fatos nos
mostram claramente um atentado contra a vida: primeiro, a atitude do Supremo
Tribunal Federal em retomar as discussões sobre a validade do aborto em casos
de Zika vírus. O momento em que vivemos de pandemia não é propício para
levantar qualquer outra discussão. Porque não se preocupar com políticas
públicas que procuram minimizar os efeitos dessa doença, no combate e prevenção
ao vírus, e na assistência às famílias atingidas? O mau se corta na raiz, e não
quando o fruto já floresceu! A solução nunca será tirar a vida de um inocente!
Outra situação de atentado à
vida, foi a infeliz fala do governante dessa nação, que, quando questionado
sobre o elevado número de mortes no país em virtude do Covid-19 (que já ultrapassa
o número de mortos na China), ele simplesmente responde um: “E daí? O que quer
que eu faça?” Ora, o governo que diz ser de moral cristã, e ter Deus acima de
tudo, se mostra extremamente incoerente. Numa total arrogância não é capaz de
admitir seus erros. E pior, minimiza os efeitos dessa crise, gerando entre a
população mais divisão e discussão ideológica.
O momento não precisa disso. Isso
é motivo de vergonha, e a História ficará marcada para sempre pela atitude
irresponsável de quem deveria ser guia; ser à exemplo de Jesus, um “bom pastor”,
que se preocupa com vida de cada cidadão, individualmente. Cada um conta! É
claro que ninguém pode se assemelhar à entrega de Cristo. Só ela é perfeita e
única. Mas o que temos visto é um contratestemunho de quem se diz crer e seguir
os passos de Jesus. Um governo sério não iria jamais perguntar ironizando: “o
que quer que eu faça?”, mas estaria sim trabalhando com políticas sérias de
suporte à população, e não dando pequenas esmolas a duras penas. Não motivaria
jamais a quebra do isolamento social em defesa da economia. E aqui podemos
perceber um cenário de um país despreparado e ainda cercada de muitas mazelas e
desigualdades sociais. Ninguém passaria fome se as oportunidades fossem iguais
a todos. Ninguém ficaria desempregado, se o Estado cumprisse seu papel de, numa
situação como essa, ser um sustento seguro durante o período de incertezas. No
entanto, o que se percebe, é a tentativa de se esquivar de suas
responsabilidades, como o pastor que abandona o rebanho quando vê o lobo
aproximar-se.
Jesus, Bom Pastor é o modelo
perfeito de liderança. Por isso, só quem sabe se sacrificar, colocando o outro
antes de si mesmo, compreende as ansiedades e exigências do Pastor! Ele dá a
vida pelas ovelhas. É no amor, entrega e doação, que se constrói o seu
Reino, que se forma seu rebanho. Reino que só será alcançado em plenitude na
vida eterna, mas que deve ser construído já agora, na defesa e promoção de toda
vida humana. “Eu vim para que as ovelhas tenham vida e para que a tenham em
abundância!” (cf. Jo. 10,10).
MarcoPRB
MarcoPRB
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